Em uma cidade onde muitas famílias ainda vão dormir sem saber o que terão no prato no dia seguinte, a chegada de um prato de comida representa muito mais do que alimentação, é também dignidade, afeto e esperança. Nazaré da Mata, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, inaugurou, na última quinta-feira (17/4), a sua primeira Cozinha Comunitária, um equipamento social que nasce como resposta concreta à fome e à desigualdade que marcam a realidade de milhares de nazarenos e nazarenas.
A ação é fruto do Programa Bom Prato, do Governo de Pernambuco, em parceria com a Prefeitura de Nazaré da Mata, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, Trabalho e Direitos Humanos. A nova unidade, que se soma a outras 194, em todo o Estado, vai distribuir, gratuitamente, mil refeições por semana, com foco nas populações mais vulneráveis da cidade. O funcionamento será diário, com distribuição das refeições a partir das 11h da manhã, na Avenida Mauro Mota, nº 237, no bairro Estação.
Para a prefeita Adriana Andrade Lima, a inauguração simboliza uma mudança de postura na condução das políticas públicas. “Esse é um governo que não vira o rosto para o sofrimento do nosso povo. A fome é uma dor silenciosa que atinge crianças, mães e idosos. Hoje, entregamos mais do que uma cozinha: entregamos uma política de cuidado, um projeto que olha para quem mais precisa”, afirmou, durante o evento, realizado às vésperas da Sexta-feira Santa.
Nazaré da Mata, cidade histórica da região canavieira, enfrenta desafios sociais profundos. Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, o município tem um IDHM de 0,613, considerado baixo. Isso significa que parte significativa da população ainda convive com dificuldades de acesso à educação, saúde e renda. De acordo com dados do Cadastro Único, cerca de 40% da população vive com menos de meio salário mínimo por pessoa, um retrato alarmante que escancara a desigualdade social no município.
Em meio a esse cenário, a insegurança alimentar é cotidiana. Crianças que frequentam escolas com o estômago vazio, mães que racionam o alimento para que os filhos comam primeiro, idosos dependentes de doações para sobreviver. “É com essa realidade que temos que lidar. E é por ela que estamos aqui”, pontuou Aninha Araújo, secretária municipal de Assistência Social.
Nos bairros da periferia, como Estação, Alto da Santa, Pedregulho, Beira Rio e Vila Paraíso, é comum encontrar famílias que dependem de doações, bicos e favores para garantir o básico. São justamente essas comunidades que, inicialmente, passarão a ser atendidas pela Cozinha Comunitária, pensada para funcionar como uma ponte entre o poder público e o direito à alimentação.
Presente no ato de inauguração, o secretário executivo Felipe Gabriel Gomes de Medeiros reforçou que o Governo do Estado vê a Cozinha Comunitária como um ponto estratégico. “Alcançar 195 cozinhas em funcionamento é a prova do nosso compromisso no combate à fome. Mais do que números, essas unidades representam milhares de refeições dignas servidas diariamente em colaboração com os municípios, e sinalizam uma nova história para Pernambuco, onde a fome não ditará o futuro de nossas famílias”, destacou.
A implementação da Cozinha Comunitária é apenas uma entre outras ações anunciadas pela nova gestão, que assumiu em janeiro de 2025 com a promessa de reconstrução da cidade. Nos primeiros 100 dias, já foram anunciados investimentos em saúde, regularização fundiária, cultura, educação e segurança alimentar. O projeto da Cozinha é tratado como prioritário, inclusive com previsão de expansão para novos bairros até o final do mandato.
Para a Chefe do Executivo Municipal, o marco desta política social está na forma como ela é construída: “Estamos ouvindo o povo, reconhecendo as urgências, mas, principalmente, planejando o futuro. A fome precisa ser enfrentada com coragem, mas também com parceria, cuidado e atenção aos que mais precisam”.
Criado como um dos pilares do programa Pernambuco Sem Fome, o Bom Prato representa uma importante parceria entre o Governo do Estado e os municípios, por meio do cofinanciamento das cozinhas comunitárias. Geridas pelas prefeituras, cada cozinha recebe um investimento inicial de R$ 50 mil para estruturação e compra de equipamentos, além de um repasse mensal de R$ 20 mil destinado à sua manutenção. Desde 2023 até o momento, o programa já distribuiu mais de 12,9 milhões de refeições à população em situação de vulnerabilidade em Pernambuco.